Da Redação do SariguêNews
Por Niara Aureliano
Pouco mais de uma semana após ter feito dois atos de campanha no Rio de Janeiro, o "Brasil da Esperança" em Belford Roxo, no dia 11 de outubro, e a caminhada no Complexo do Alemão, no feriado do dia 12, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomará a agenda de campanha no estado em que seu opositor, o presidente Jair Bolsonaro (PL), venceu no primeiro turno das eleições presidenciais.
O primeiro lugar a ser visitado é São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do estado. A prefeitura do município é comandada por Capitão Nelson (Avante), apoiador de Bolsonaro. Nessa terça, 18, Nelson causou polêmica ao xingar moradores de Niterói e Maricá de "bando de filhos da puta". O prefeito comentava sobre disputas relacionadas à destinação dos royalties do petróleo, em palanque, ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Niterói e Maricá deram vitória a Lula no primeiro turno.
Apoios – Ao lado do coordenador de campanha no estado, o prefeito Eduardo Paes (PSD), Lula tem intenção de reverter a disparidade de votos entre ele e Bolsonaro. A diferença foi de quase um milhão de votos, o que totalizou 51,09% dos votos válidos para Bolsonaro, e 40,68% para Lula. A aposta é que com os apoios de Paes na capital, e Waguinho, prefeito de Belford Roxo e um dos maiores cabos eleitorais da Baixada (que deverá articular pela região onde o petista perdeu em todos os municípios), Lula alcance maior número de eleitores.
“Da creche à universidade”
Após ato no Complexo do Alemão, a campanha petista foi alvo de fake news que relacionavam a sigla "CPX", que significa Complexo, à palavra "cupincha", compartilhada como alusão ao crime organizado. Em palanque na Estrada do Itararé, a violência que assola os territórios favelados foi o gancho para as declarações do ex-presidente de que irá "cuidar da creche à universidade", comprometendo-se com lideranças comunitárias, moradores e apoiadores a garantir escolas em tempo integral. "A questão da escola em tempo integral é uma necessidade, não apenas para as crianças serem cuidadas na escola, mas para evitar que balas perdidas matem crianças brincando nas ruas como acontece neste país".
Um levantamento da plataforma Fogo Cruzado, divulgado em 11 de outubro, indica que 119 crianças foram baleadas no Rio de 2016 a setembro de 2022. O estudo, feito em alusão ao Dia das Crianças, revelou que do total, 32 menores morreram e 87 ficaram feridos no estado.
Para a estudante de psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Thaís Prado, a caminhada com Lula dentro de um território onde o Estado se apresenta constantemente de forma violenta “carrega o desejo da população das favelas de poder (como diz o funk) andar tranquilamente na favela onde nasceu", disse a moradora do Fonseca, em Niterói.
"No governo Bolsonaro vimos diversos ataques, desde as creches (corte de verba para merendas) às universidades (bloqueio das contas no início do mês de outubro). No governo Lula, tivemos a valorização e a popularização do ensino superior, com o Fies, Prouni e Sisu. Apesar de todos esses avanços, a educação superior precisa de mais investimentos, como por exemplo o descongelamento das bolsas da Capes", disse.
À população das favelas cariocas, compostas majoritariamente por pretos, pardos e nordestinos, Lula declarou que criará o Ministério da Equidade Racial e o Ministério dos Povos Originários, a ser chefiado por um indígena, o que seria um feito histórico no País. Ressaltou, da mesma forma, que enquanto foi mandatário ampliou as vagas nas universidades federais e que hoje, pretos e pardos são maioria nas universidades. Finalizando, declarou que não quer um país que “distribua armas”, mas que "distribua livros".
Repercutindo as falas do ex-presidente no tocante à educação, Thaís Rodrigues, de 28 anos, estudante da Faculdade de Educação da Uerj/SG, comentou a política de permanência nas universidades, defendendo que políticas para a educação superior sejam pensadas conjuntamente à comunidade acadêmica.
“A lei de cotas fez ser possível o número de pessoas negras e de baixa renda entrarem nas universidades, mas não é o suficiente. A política de assistência estudantil precisa ser melhorada. É necessário garantir a permanência digna dessas pessoas. Hoje poucas são as universidades com moradia estudantil e as condições estão decadentes, o passe livre não é real na maioria dos lugares, o que impossibilita até mesmo a chegada dos estudantes às aulas e demais atividades acadêmicas. Os poucos restaurantes universitários têm seus preços cada vez mais altos e não comportam com eficiência a comunidade acadêmica”.
Articulada à fala da socióloga Janja Lula, que assegurou que um futuro governo Lula se comprometerá com projetos de creche, em aceno às mulheres cariocas, a uerjiana pontuou: “poucas são as universidades que dispõem de creche, o que implica diretamente na vida das mulheres, visto que o cuidado infantil cai majoritariamente sob a responsabilidade feminina. A criação de mais colégios de aplicação permitiria um melhor desenvolvimento dos estudantes das áreas de licenciatura, mais projetos de extensão e permitiria que os estudantes com filhos pudessem permanecer nas universidades”.